Conheça Mafalda

Saiba mais sobre essa menininha triste e suave que encantou o Mundo

Mafalda
Na América do Sul, grassava o espírito das ditaduras e o desejo facistoíde de engendrar povos “fortes” e livres da “ameaça” comunista. Mas a alma libertária também tinha seus espaços. O suficiente para que em 29 de setembro de 1964, surgisse na argentina uma menininha que encantaria o mundo e permaneceria até hoje como símblo de contestação e liberdade. Seu nome? Mafalda, uma garota de seis anos, que surge para colocar o mundo de ponta-cabeça. Ela aparece para desconstruir as visões conservadoras sobre a política, moral, econômica, cultural. O “pai” da menina é o quadrinista argentino Joaquín Salvador Lavado, popularmente comhecido como Quino.

A sua personagem emblemática, Mafalda a contestatária, surge numa série de banda desenhada publicada nos jornais e revistas em tiras (curta sequência de quadradinhos). Inicialmente, Mafalda foi publicada em Primera Plana (1964), onde surgiu durante seis meses, tendo depois sido publicada no diário El Mundo, a partir de março de 1965 e, finalmente, no Siete Dias, desde 1967 até terminar em julho de 1973, ao fim de mais de três mil tiras de BD.
Para além das tiras diárias, Mafalda surgiu também em livros, cujo primeiro foi editado em 1966 na Argentina. A primeira edição no estrangeiro aconteceu em Itália, em 1969, tendo uma introdução de Umberto Eco. Nos anos seguintes seguir-se-iam Espanha, Portugal, França, Alemanha, Grécia, entre muitos outros países.
Esta menina rebelde, inconformada diante do contexto mundial recente, tornou-se extremamente popular em todo o continente europeu e na América Latina. Inúmeras vezes ela foi comparada à criação do norte-americano Charles Schulz, Charlie Brown, especialmente pelo escritor Umberto Eco, em 1968, que via em ambos um temperamento triste e suave. Este autor também caracterizava Mafalda como uma protagonista propensa à ira, justamente por não aceitar as coisas como elas são.
Apesar do grande sucesso alcançado por Mafalda em diversos países, sobretudo na América Latina e na Europa, a decisão de terminar a série prendeu-se com o desejo de Quino se dedicar em exclusivo ao desenho de humor (Caricatura) e de não querer repetir situações, num trabalho diário que, ao fim de alguns anos, se torna difícil gerir.
Quino apenas abriu exceções para causas como “A Declaração dos Direitos das Crianças” para a UNICEF, e para uma campanha médica a favor da higiene oral na Argentina, em que voltou a desenhar a pequena miúda e os seus amigos.
Mas qual é o universo de Mafalda? Vive com uns pais muito resignados em relação ao que a vida lhes oferece, num retrato típico de uma família argentina (e não só) de classe média, sendo Mafalda, por vezes, particularmente cáustica com a situação doméstica da mãe.
Mafalda é também uma observadora muito perspicaz do que se passa no Mundo, sendo uma crítica implacável da sociedade. Primeiro conhece as notícias através da rádio e dos jornais, depois pela televisão, que chega “tarde” a casa, depois de muita pressão sua, pois Mafalda chegou a ser a única na escola que não tinha televisão.
Está sinceramente preocupada com o destino do planeta, personificado no seu globo fétiche, com o qual tanto fala.
Pelo fato de ser uma menina, e não um menino, Mafalda já começa subvertendo as lógicas do quadrinho e da vida, dando espaço para questões de gênero. Se antes as mulheres eram vistas como coadjuvantes, Mafalda torna explícito o contrário. Ela se transforma num vetor para as idéias que iam emergindo na turbulenta década de 1960 – o feminismo, as questões do chamado “Terceiro Mundo”, os direitos das crianças. Seus questionamentos, suas angústias, pareciam antecipar as problemáticas surgidas com o terror que seria instaurado na argentina dos militares.

Mafalda odeia a injustiça, a guerra, as armas nucleares, o racismo, as absurdas convenções dos adultos e, obviamente, a sopa, como mostram algumas de suas tiras. Seus amores também ilustram o espírito da época: os direitos humanos, a democracia e os Beatles. Ela é uma menina que recoloca questões crucias, numa linguagem radical, de tão simples e aparentemente ingênua; é uma criança que se espanta diante do mundo, não aceita as “normalidades e obviedades” da realidade cotidiana.

Seus comentários são sempre ácidos e vão de encontro aos ideais da sociedade de consumo. Quino consegue criar em suas tiras perguntas de um fôlego inédito, um frescor para o humor político e engajado. Através de seu alter-ego Mafalda, ele faz comentários entrecortados de ironia, acidez e sutileza.

A presença de espírito da pequena menina argentina foi reconhecida por ilustres acadêmicos, como o semiólogo italiano Umberto Eco, que chegou a afirmar que ela é uma “heroína iracunda que rejeita o mundo assim como ele é, reivindicando o seu direito de continuar sendo uma menina que não quer se responsabilizar por um universo adulterado pelos pais”.

O universo de Mafalda não é só atormentado por seu mundo familiar. As questões do mundo lhe dizem respeito, são tratadas diretamente. A América Latina, o problema da auto-afirmação dos povos, as crises econômicas, as questões do mercado de trabalho, tudo interessa a Mafalda, tudo lhe atinge e a confronta. Com poucas palavras, em quadros ágeis, Quino consegue falar do autoritarismo paterno e materno e dos problemas ecológicos.

Quanto aos meninos da sua idade com quem se dá, vieram enriquecer decisivamente a série, pela diferença de personalidades e de objetivos de vida. Manolito (Manelinho) aspira seguir as pisadas do pai, emigrante espanhol dono de uma mercearia, local onde Manolito surge frequentemente atrás do balcão a atender clientes. Filipe é o sonhador do grupo, sendo muito tímido. Mora no mesmo prédio de Mafalda, gosta de Xadrez e de BD, imaginando-se no papel de Cavaleiro Solitário. O castiço Miguelito não gosta de sopa como Mafalda, odiando o mar, uma vez que o imagina como uma “enorme sopa”! Com a Susaninha existem várias divergências, pois esta quer casar com um homem rico para não trabalhar e ter muitos filhos. Para além disso, é racista, não gosta de pobres e fala, fala, sendo uma cópia fiel da sua mãe. Gui (diminutivo de Guilherme) é o irmão mais novo de Mafalda, tendo aparecido em 1968. Sempre de chupeta na boca, é contestatário como a irmã. Finalmente Liberdade, a última personagem a surgir, consegue ser ainda mais contestatária que Mafalda, assumindo-se como uma verdadeira revolucionária. Como a mãe é a única senhora que trabalha fora de casa, a mãe de Liberdade merece toda a admiração de Mafalda.
Mesmo tendo terminado há décadas, a popularidade e a atualidade de Mafalda continuam a ser impressionantes, sendo justamente considerada a mais célebre heroína da BD da América Latina e um nome incontornável da banda desenhada mundial.
A adaptação aos desenhos animados aconteceu em 1993, em Espanha, quando se produziu uma série de 104 episódios de um minuto.
Em Portugal a série surgiu em maio de 1970, por intermédio das Publicações Dom Quixote, que até 1975 editaram um total de 18 livros em pequeno formato.
Em 1972 a mesma editora apresentou o primeiro álbum em grande formato, seguindo-se diversos outros títulos (entre o final dos anos 70 e durante os anos 80 do século XX), também em grande formato.
Dado o grande carinho com que os leitores portugueses acolheram a série, foi editado o livro Toda a Mafalda, condensando num único volume as tiras da pequena irrequieta, para além de apresentar diversas curiosidades sobre a série e o seu autor. A Bertrand Editora apresentou em 2003 O Mundo de Mafalda, que corresponde a uma nova versão do título anterior e em 2005 surgiu Viagem com Quino e Mafalda, álbum editado pela Teorema.
Em 2001 a Fnac editou em exclusivo dois vídeos com mais de 100 episódios (de um minuto cada) de desenhos animados de Mafalda.

Personagens:

MAFALDA – Primeira aparição: 29 de Setembro de 1964.
Sobrenome: Quino nunca o mencionou, mas em uma das tiras, nas quais a sua professora corrige um desenho dela, depois do nome da Mafalda, aparece a letra M.
Idade: 6 anos em 1964; 8 no último livro.
Características: seus comentários e idéias refletem as preocupações sociais e políticas dos anos 60. Filha de uma típica família da classe média argentina, a Mafalda representa o anticonformismo da humanidade, mas com fé na própria geração. O que mais odeia é a injustiça, a guerra, as armas nucleares, o racismo, as absurdas convenções dos adultos e, obviamente, a sopa. As suas paixões são os Beatles, a paz, os direitos humanos e a democracia.
Álbum de família: pai, mãe e um irmão, o Guille. Tem pelo menos uma avó, à qual mandou um cartão postal depois de umas férias.

FELIPE – Primeira aparição: 19 de Janeiro de 1965.
Sobrenome: desconhecido
Idade: 7 anos em 1964. Sempre teve um ano a mais do que a Mafalda.
Características: sonhador, tímido, preguiçoso e desligado; às vezes, romântico. É o oposto da Mafalda. É um fã das estórias de aventura, em particular daquelas do “Cavaleiro Solitário”. Odeia a escola e ter que fazer as tarefas para casa. Não parece concordar muito com a própria personalidade: “Justo eu tinha que ser como sou?”, se pergunta numa tira.
Álbum de família: seu pai nunca apareceu nas tiras, mas a sua mãe, com a qual se parece fisicamente, sim. De todos os personagens é aquele do qual se conhecem menos detalhes. Nem através da fofoqueira da Susanita conseguimos descobrir muitas coisas sobra a sua biografia familiar.

MANOLITO – Primeira aparição: 29 de Março de 1965.
Sobrenome: Goreiro.
Idade: 6 anos em 1964.
Características: bruto, ambicioso e materialista, mas, no fundo, com um grande coração. De todos os personagens, ele e a Susanita são os únicos que realmente sabem o que querem da vida. No seu caso, uma enorme rede de supermercados. Admirador de Rockefeller, as suas paixões são tão fortes como o seu ódio, como o que tem dos hippies – entre os quais inclui os Beatles – e da Susanita.
Álbum de família: filho de espanhóis. O pai, bruto como o filho, demonstra, às vezes, alguns brutos sinais de carinho. A família é completada pelo seu irmão, idêntico ao Manolito, que aparece por primeira e última vez no livro n°1, quando acaba o serviço militar. A mãe é uma incógnita: só aparece a sua mão segurando um chinelo que ameaça o Manolito.

SUSANITA – Primeira aparição: 6 de Junho de 1965.
Sobrenome: Chirusi e segundo nome: Clotilde.
Idade: 6 anos em 1964.
Características: super fofoqueira, egoísta ao máximo e briguenta por vocação. Tem o seu futuro totalmente planificado: um casamento magnífico, um marido com uma boa condição econômica e muitos, muitos filhos. Essas as suas paixões. As coisas que odeia são mais numerosas: os pobres dão-lhe nojo, quase tanto quanto o Manolito, e detesta as reflexões da Mafalda. Obviamente, não está nem aí com o destino do mundo.
Álbum de família: a Susanita é o retrato vivo da sua mãe. Não tem só os avós, mas também uma bisavó de 83 anos (livro n° 5). Os seus pais, depois dos da Mafalda, são os que mais aparecem nas tiras.

MIGUELITO – Primeira aparição: Verão de 1966.
Sobrenome: Pitti.
Idade: 5 anos em 1964.
Características: sonhador como o Felipe, apesar de ser mais egoísta e muito menos tímido. A sua inocência é à prova de tudo e vive refletindo sobre questões sem importância. Detesta ter a idade que tem e não ser notado. É o centro do mundo e ninguém consegue convencê-lo do contrário.
Álbum de família: tem um avô fascista que fala maravilhas do Mussolini. O pai nunca aparece, a não ser através da sua voz autoritária em alguns quadrinhos. A mãe, ao contrário, é uma mulher gorda, cuja única preocupação é que o pavimento da casa esteja sempre brilhante.

LIBERTAD – Primeira aparição: 15 de Fevereiro de 1970.
Sobrenome: desconhecido.
Idade: talvez a mesma dos outros, mas com certeza, mais do que parece.
Características: um espécie de Mafalda em miniatura, apesar de ser menos tolerante. Com certeza de esquerda, talvez por uma questão genética. Intelectual, crítica e perspicaz, Libertad ama a cultura, as reivindicações sociais e as revoluções. As pessoas complicadas a deixam nervosa. Ela, garante, é simples.
Álbum de família: o apartamento em que mora é tão pequeno como ela, mas tem espaço suficiente para um monte de livros e uns posters de Paris. A mãe, muito jovem, é tradutora de francês. O pai nunca aparece, mas se sabe que é socialista. Eles se casaram quando estudavam e conseguiram se formar com muito esforço.

GUILLE – Primeira aparição: 2 de Junho de 1968.
Sobrenome: o mesmo da Mafalda.
Idade: nasceu em 1968.
Características: típico representante da idade da inocência, em que tudo está para ser descoberto. Dono de uma ternura marota, é o único personagem que cresce de uma tira para outra. A sua paixão são os rabiscos nas paredes, a chupeta on the rocks e a Brigitte Bardot.

OS PAIS – Primeira aparição: Setembro de 1964.
Sobrenome: desconhecido, assim como o nome do pai. Sabe-se qua mãe se chama Raquel.
Idade: o pai, 35 anos em 1967 e 39 no último livro. A mãe deve ter uns 36 ou 37 anos, porque a Mafalda a desmascara puxando um cabelo branco dela.
Características: um típico casal de classe média. Ambos são passivos, limitados e, até mesmo, levemente falidos. O pai trabalha num escriório fazendo contas para chegar no fim do mês. A mãe abandonou a universidade para formar uma família, coisa que a Mafalda critica sempre que pode. Ele ama as plantas; ela vive com o dilema do que cozinhar. Eles têm duas fraquezas em comum: os filhos e o Nervocalm.

Personagens Mafalda

Referências: Wikipedia | Mafalda.net | Infopedia | Infoescola

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