Mick Anglo, o criador de Marvelman (Miracleman)

Conheça Maurice Algowitz, o autor que teve os direitos sobre o herói reconhecidos somente no fim da vida

Mick Anglo

Maurice Algowitz, o inglês mais conhecido como Mick Anglo, faleceu no dia 31 de outubro, segundo informação do site Comic Bits Online. O homem que criou Marvelman, o super-herói mais famoso dos quadrinhos britânicos, tinha 96 anos.
Não é segredo que Anglo foi contratado para fazer o que, na prática, era um plágio. A editora britânica L. Miller & Sons publicava na Inglaterra os quadrinhos do Capitão Marvel, sucesso tão grande lá quanto nos EUA. Quando a DC Comics processou a editora americana do Capitão, as histórias do personagem foram suspensas. Não querendo perder seus leitores já conquistados, a editora britânica buscou uma solução em 1954: um personagem praticamente idêntico ao norte-americano, chamado Marvelman, também criança que se transformava em adulto superpoderoso ao dizer palavra mágica, também com superfamília. Anglo ficou encarregado da criação.

Marvelman voltou a fazer sucesso nos anos 80, quando Alan Moore escreveu uma série de histórias hoje consideradas clássicas para a revista Warrior. Após isto – e a exportação para os EUA, via editora Eclipse, onde o herói virou Miracleman por solicitação dos advogados da Marvel Comics -, o personagem virou pivô de um emaranhado jurídico que até hoje não se resolveu. Em poucas palavras, não se tem certeza se o personagem (e suas histórias) pertencem a Anglo, à editora original, à Warrior, a Alan Moore, à Eclipse ou a outros autores que passaram pelo personagem.
Mick escreveu mais de 700 histórias de Miracleman e acabou descontinuado. Ele retornou à ativa em 1982 numa minissérie escrita por Alan Moore que recriou totalmente o herói, com uma visão mais profunda e sombria. Saiu pela editora americana Eclipse. E aí a coisa se complicou porque esta mini saiu sem autorização do criador.
Em 1994, a Eclipse foi à falência e seu acervo de personagens foi parar num leilão judicial. Com isso, em 1996, Todd McFarlane deu um lance de alguns milhares de dólares e comprou a editora “de porteira fechada”. Um problema é que esse leilão não levou em conta as diversas propriedades autorias sobre os personagens. O próprio Miracleman é um caso complexo, já que Moore havia passado seus direitos para Gaiman, mas outros autores (como Alan Davis) também se consideram proprietários das HQs produzidas a partir de 1982. Além disso, McFarlane e Gaiman acabaram se desentendendo sobre pagamentos relativos ao uso da personagem Angela (criada por Gaiman para a série Spawn). Para complicar, em 2001, McFarlane lançou uma estátua de Miracleman e divulgou que ele participaria da revista Hellspawn. Então, com parte dos lucros da minissérie 1602 (publicada pela Marvel), Gaiman criou a companhia Marvels and Miracles LLC, voltada a resolver a situação de Miracleman, o que deu início a um processo judicial contra McFarlane.

Marvelman / Miracleman

Passaram-se alguns anos até que um juiz decidiu a questão, definindo que McFarlane não tinha direitos sobre o personagem. Mas, a saga jurídica de Marvelman / Miracleman não se encerrou aí. No mesmo processo, descobriu-se que, ainda em 1982, o editor Dez Skinn não teria pago a Mick Anglo pelos direitos de usar o personagem na Warrior, o que gerou um novo entrave judicial. Houve uma longa disputa entre Gaiman e McFarlane e finalmente, em 2004, a Justiça decidiu que Gaiman era quem deveria ficar com o personagem. Neil, por sua vez, reconheceu que tudo pertencia mesmo a Mick Anglo.
Então, em 2009, o editor-chefe da Marvel, Joe Quesada, anunciou que Marvelman passava a fazer parte do acervo da editora (o que é bastante irônico, já que essa mesma editora havia criado os primeiros problemas judiciais para o personagem). O fato é que isso trouxe a possibilidade de o herói voltar a ser publicado, e também de que Gaiman conclua sua fase à frente da série. Mas, embora um acordo já tenha sido feito com Anglo e Moore, há ainda muitos acertos a serem feitos com os diversos autores que trabalharam na série. Logo, aos antigos e futuros leitores, só resta aguardar o dia em que Marvelman ganhará novas edições, à altura de sua qualidade e importância!

Referências: O capacitor | Omelete | Comic bits online | Wikipedia | Mais quadrinhos

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