Quem é Flavio Colin?

Saiba mais sobre Flávio Colin, carioca e que desenhou vários quadrinhos

Flavio Colin

Flávio Barbosa Mavignier Colin nasceu em 22 de junho de 1930, no Rio de janeiro. Em 1945-46, ainda nos tempos de colégio de frades Franciscanos na cidade de Porto União, em Santa Catarina, Flávio Colin já desenhava Histórias em Quadrinhos para seus amigos de classe, onde cobrava a módica quantia de um mil réis por cada história. Profissionalmente, Flávio Colin começou a desenhar Histórias em Quadrinhos aos 26 anos, na Rio Gráfica e Editora (RGE), no Rio de janeiro, entre o período de 1956 a 1959. Seus primeiros trabalhos foram para as revistas X-9 e Enciclopédia, mas, na RGE, ele desenhou várias revistas como O Cavaleiro Negro e Águia Negra (ambas de copyright americano) e As aventuras do Anjo, transposição para os quadrinhos de uma novela radiofônica que fazia muito sucesso na época.

Em meados da década de 60, Colin estava a um passo de abandonar os quadrinhos. Ele havia sido um dos artistas mais engajados na luta pela valorização das boas HQs nacionais e, devido a isso, sofreu diversos boicotes e passava por sérias dificuldades financeiras. Maurício de Sousa foi o único autor que atravessou o período de maneira tranqüila e estável, sendo ele o responsável por convidar Flavio a desenvolver com total liberdade uma série de tiras diárias para o jornal Folha de São Paulo, que na época estava expandindo sua sessão de cartuns. Assim surgiu “Vizunga”, que estreou em 1964 e foi publicada apenas durante dois anos: como era de se esperar, não deu lucro ao autor, mas angariou um público tão pequeno quanto fiel, e com o passar do tempo se tornou um verdadeiro cult das bandas desenhadas brasileiras.

A tira era inteiramente baseada na famosa idéia de que pescadores e caçadores são, na melhor das hipóteses, exagerados, e na pior delas, mentirosos. Seu protagonista é um homem misterioso, calvo, na faixa dos cinqüenta anos, que passeia sem maiores pretensões pelas praias do Rio de Janeiro, onde faz amizades com pessoas a quem conta as aventuras mirabolantes que viveu no passado. Entre um chopp e outro, ou durante tranquilos passeios pelo litoral, ele discorre com enorme naturalidade a respeito do dia em que fisgou um peixe de noventa quilos, da ocasião em que quase foi atacado por um tubarão, de quando se transformou em ídolo de uma tribo por tirar a mais bela das suas índias da boca de um crocodilo e até mesmo sobre qual a melhor maneira de se caçar elefantes na África, tudo permeado com muito lirismo e bom humor.
A série Vizunga foi republicada por Ota Barros no gibi Eureka. Infelizmente, o que era pago pelo trabalho era muito pouco. Um valor praticamente simbólico, o que obrigou o mestre a ingressar na publicidade (agência McCann Erickson) para poder “ganhar dinheiro de verdade”, como o próprio Colin se referiu certa vez. Segundo Colin, um único quadrinho de storyboard que fazia na agência equivalia a um mês inteiro de tiras do Vizunga.
Entre 1962 e 1964, ele colaborou com a Editora Outubro, de São Paulo, produzindo histórias de terror, e para a CEPTA – Cooperativa Editora e de Trabalho de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Na editora Outubro, Colin ficou encarregado de desenhar outra adaptação, dessa vez da série de TV O Vigilante Rodoviário.

A CEPTA foi um movimento que tentou criar uma produção nacional forte de Histórias em Quadrinhos mas, infelizmente, não obteve sucesso. Foi nesse período, no entanto, onde ele criou Sepé Tiarajú, um índio que lutou no tempo das missões contra os conquistadores espanhóis, e Vizunga.

No final da década de 1970, Flávio Colin voltou aos quadrinhos pela Grafipar, editora curitibana que foi responsável pelo segundo “boom” dos quadrinhos nacionais. Na Grafipar, Colin desenvolveu histórias de terror e eróticas que ilustraram várias revistas, como Próton, Sertão e pampas, Quadrinhos Eróticos e muitas outras. Foi nesse período, também, que Colin colaborou em revistas de terror para a editora Vecchi (Spektro; Pesadelo; Sobrenatural), do Rio de Janeiro, e a Editora D-Arte (Calafrio e Mestres do Terror), de São Paulo. Em 1985, Flávio Colin desenhou para a Companhia de Petróleo Ipiranga A Guerra dos Farrapos, álbum extraído do livro Os Barões assinalados de Tabajara Ruas e publicado pelo LP&M. Algum tempo depois, para o mesmo patrocinador, desenhou O continente do Rio Grande, com textos de Barbosa Lessa (Editado em pequeno formato pela LP&M para distribuição gratuita em postos de gasolina).

Em 1983, desenhou Hotel do terror para a OtaComix, do Rio de Janeiro, e, em 1994, ilustrou o álbum Mulher-Diabo no rastro de Lampião para a Nova Sampa, em parceria com o roteirista Ataíde Braz, e O Boi das Aspas de Ouro. Flávio Colin ganhou o Prêmio Angelo Agostini em 2001 por Fawcett, produzido no ano anterior em parceria com André Diniz. Também desenhou os álbuns Estórias Gerais e Fantasmagoriana de Wellington Srbek. Além desse prêmio, podemos citar três HQ Mix, um em 1990 (Grande Mestre dos Quadrinhos), e outros em 1994 (Desenhista Nacional) e 1997 (como homenageado) e mais outro Angelo Agostini. Flávio Colin também ganhou um troféu do XII Salão Carioca de Humor, como homenageado, e um prêmio da Gibiteca de Curitiba, além do Salão Internacional de Piracicaba; Press 1986, pelo conjunto da obra; e do Museu da Imagem e do Som e ainda houve uma homenagem da Casa de Cultura Laura Alvim.
Um dos poucos editores que “reapresentou” o talento de Colin aos leitores contemporâneos foi o mineiro Wellington Srbek. Por iniciativa independente, Srbek editou o álbum Estórias Gerais (com 160 páginas e mais tarde reeditado pela Editora Conrad em álbum de luxo), escrito por ele com desenhos de Colin, além de várias outras histórias curtas de terror distribuídas em diversas revistas mix. A parceria de Sberk e Colin se deu entre a década de 1990 e pouco antes da morte do autor.
Ele era um defensor exacerbado dos quadrinhos nacionais. Não gostava do Batman, nem do Super-Homem. Achava que eram coisas dos gringos. Nas suas HQ’s podemos encontrar a mula-sem-cabeça, o saci-pêrere, caboclos, mulatas, samba, macumba, cerveja, enfim, tudo aquilo que tiver raízes em nossa cultura.
Entre os artistas que mais influenciaram Colin estão Milton Caniff (Terry e os piratas), Chester Gould (Dick Tracy), Alex Raymond (Flash Gordon), Burne Hogart (Tarzan) e Harold Foster (O Príncipe Valente), entre outros. O grande mestre Flávio Colin faleceu no dia 13 de agosto de 2002, aos 72 anos, às 5 horas da manhã. Ele havia sido internado alguns dias antes por causa de um enfizema pulmonar, mas, infelizmente, não conseguiu resistir. Sem dúvida uma perda irreparável para a Nona Arte brasileira, que perdeu seu mais talentoso, aguerrido e confiante artista que já teve.

Pouco antes da morte, Flavio acabara de completar um livro que seria publicado cinco anos depois, pela editora carioca Desiderata. No caso, é o livro Caraíba, que segue o mesmo tema dos últimos trabalhos do autor: o meio-ambiente.
De fato, Flavio Colin foi um dos tops dos quadrinhos mundiais. Ironicamente, o valor que o mestre dava ao Brasil não era recíproco: três meses depois que o artista morreu, sua viúva, que passava por graves dificuldades, foi obrigada a vender inúmeros de seus originais a preço de banana. Triste.

VIZUNGA

Um de seus trabalhos mais festejados foi a tirinha diária Vizunga, publicada pela Folha de São Paulo na década de sessenta. Elas narravam as histórias de um ex-caçador e pescador que, em rodas de amigos, conta e ouve casos. O que mais chama atenção em Vizunga são as duas maneiras de se ilustrar a história. Uma de forma mais séria, utilizando traços tradicionais e outra se utilizando de linhas mais caricaturais, para enfatizar as mentiras e exageros do personagem principal, um grande contador de “causos”. Seguem alguns trechos de Vizunga:


__Copacabana

__ Mais tarde caminho pela Avenida Atlantica, olhando o mar a as gaivotas…
__ Lá na beira, frenteàs ondas, avisto um pescador. A seu lado, cravada na areia, a vara com molinete. Paro intrigado. O que pescaria ele?
__ Que peixes ainda se arriscariam em águas tão frequentadas por toda gente.

__ Que começava comigo.
__ E ia terminar lá em cima, num mascate que puxava seu jerico pelo cabresto.


__ Então, a fileira começou a mover-se e eu e o jaú fomos içados.
__ É claro que nada contamos a meu tio, mas o velho admirou-se muito ao ver o jaú, e eu fiquei com um baita cartaz lá na fazenda.
__ Bem, acho que já o importunei demais, vou andando…

4 Comentários Quem é Flavio Colin?

  1. Rodrigo Miguel

    Muito bom o blogmaniadegibi.com estar sempre relembrando os grandes mestres da HQ Nacional.

    Flavio Colin foi um deles.

    Parabéns e um grande abraço ao Mazinho e equipe Mania de Gibi.

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  2. Henrique Silva da Paz

    Excelente matéria sobre um dos grandes mestres dos quadrinhos nacionais. Flavio Colin está entre os grandes nomes das HQs mundiais. Flavio está morto, viva Flavio!

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  3. NORBERTO VARANDA

    Fui um grande colecionador e admirador das Aventuras do Anjo desenhadas por Flávio Colin. Comprei na banca muitos números do início da coleção, que cheguei futuramente a completá-la. Hoje só possuo os 18 números iniciais. Muito grato pelo site. Saudades.

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