Conheça Mort Walker

Criador de Recruta Zero, Zezé e Arca de Noé

Mort Walker

Mort Walker, de nome verdadeiro Addison Morton Walker, nascido a 3 de setembro de 1923, em El Dorado, Kansas, e criado em Kansas City, Missouri, é um dos mais conhecidos cartunistas dos Estados Unidos, criador dos personagens Recruta Zero e Hi & Lois. Iniciou sua carreira de desenhista cedo: aos 11 anos de idade descobriu sua vocação para os cartuns e já se arriscava entre papéis e lapiseiras, além de desenhar para jornais de Kansas City.
Aos 20 anos de idade, em plena Segunda Guerra Mundial, foi convocado pelo Exército norte-americano, servindo no sul da Itália e alcançando o posto de primeiro-tenente. De volta à pátria, persistiu com seu antigo sonho de tornar-se um cartunista de projeção nacional.
Por diversas ocasiões, seu trabalho foi rejeitado por grandes editoras de cartuns como a King Features Syndicate – até que, em 1950, criou um obscuro personagem chamado Beetle Bailey, um preguiçoso estudante universitário, que foi aceito pela King Features. A tira originalmente não foi das mais bem sucedidas: apenas 25 jornais americanos aceitaram publicá-la. Recebendo o equivalente a US$ 200 de royalties por semana, o desenhista sequer imaginava que seu personagem estava por ser descartado pela King Features, devido à pouca popularidade.
Mas a trajetória do personagem sofreu uma reviravolta quando, em 4 de setembro de 1950, Mort Walker decidiu, em uma tira, alistar seu personagem no Exército americano, aproveitando a repercussão da Guerra da Coréia. Em poucas semanas, cerca de uma centena de diários em todo o país acolheram a nova versão de Beetle Bailey. Curiosamente, um dos editores da King Features Syndicate confidenciou a Mort Walker: “se você tivesse trazido uma tira de humor militar da primeira vez que você nos contatou, nós não a teríamos comprado”.

Recruta Zero - Historia

O personagem (desde então batizado no Brasil com o nome de Recruta Zero) logo ganhou popularidade devido a sua sátira ao rigor do cotidiano militar. Zero é um soldado raso deveras preguiçoso, sempre procurando escapar de seu superior imediato, o Sargento Tainha. Ao redor deles, há uma penca bastante heterogênea de outros personagens, em termos de comportamento e aparência. Inclusive, de acordo com o próprio autor, os defeitos e manias dos personagens são inspirados em suas experiências pessoais.
Mas nem o sucesso de Mort Walker com o Recruta Zero impediu que grupos de interesse atacassem a tira: em pelo menos uma ocasião, os quadrinhos do hoje folclórico personagem foram banidos da Stars and Stripes, a revista oficial do Exército norte-americano. O argumento usado pelos editores dessa publicação era duvidoso: o Zero estava ridicularizando demais o cotidiano dos soldados norte-americanos, servindo de mau exemplo. O que não impediu muitas famílias de militares americanos de mandar cópias das tiras, em geral recortadas de jornais.
Em 1992, uma tira retratando General Dureza, o comandante do quartel onde o Recruta Zero “serve”, mostrou o comandante numa situação de assédio sexual; mais uma vez, Mort Walker teve sua tira censurada. Nos últimos anos, Mort Walker tem delegado a um de seus filhos, Gregory, a autoria de diversas tiras do Recruta Zero. Recebeu diversas homenagens da National Cartoonists Society (entidade que reúne desenhistas famosos nos EUA) por seus bons serviços prestados ao humor naquele país.

Zezé

Com o final da guerra da Coréia, Walker estava preocupado que o Recruta fosse perder leitores. Decidiu, então, inventar uma tira de família, e surgiu Hi and Lois (no Brasil, Zezé), um autêntico spin-off (termo usado quando uma obra gera “filhotes”). Ele criou uma família para Zero, e o fez voltar para casa. Mas, devido a protestos dos fãs, em duas semanas o personagem retornou para o exército.

Tira - Recruta Zero

Walker criou outras tiras. A de maior sucesso, assinada com seu primeiro nome, Addison, foi publicada no Brasil com o nome de Arca de Noé, e contava as trapalhadas em um navio cheio de animais engraçados, com um capitão não muito respeitado pelos seus subordinados, tampouco pela esposa.

Em 1960, ele teve uma conversa com Dik Browne, para saber o motivo de cartunistas não terem o respeito merecido. Seu amigo lhe respondeu que era por não terem um museu que exibisse cartuns. Então, Walker decidiu criar um! E em 1974 foi fundado o International Museum of Cartoon Art, em Greenwich, Connecticut. No ano seguinte, o acervo foi transferido para um casarão histórico em Rye Brook, Nova York, onde ficou por 18 anos, até que, por necessidade de espaço, mudou-se para o luxuosíssimo espaço em Boca Raton, na Flórida.

O criador, incansável, durante sua vitoriosa carreira participou de campanhas beneficentes, colaborou com a Cruz Vermelha, visitou hospitais, esteve diversas vezes envolvido em causas significativas, recebeu inúmeros e importantes prêmios e homenagens.

Entre outras curiosidades na vida do artista, em 1951, procurou ajudar um certo criador, que não estava tendo sucesso em seu trabalho, a publicar suas tiras. Tratava-se de ninguém menos que Charles Schultz, “pai” de Peanuts (Snoopy).

Publicou um desenho na Suécia com Dona Tetê nua e, à sua volta, os personagens do universo de Zero. Um editor americano viu, e pediu para fazer uma série limitada do desenho nos Estados Unidos. Esgotou!

Dona Tetê nua

O motivo de tanto sucesso do Recruta Zero, além do talento de Mort Walker, é o humor universal presente nas histórias. Observando cenas do dia-a-dia e, principalmente, pessoas, criam-se situações das quais é impossível não rir ao ler as tiras de quadrinhos. Outras vezes, busca passar mensagens com valores edificantes através das mesmas. E consegue!

Aos 87 anos e com uma carreira tão prolífica, poderia se pensar que Mort Walker já fez tudo o que tinha que fazer. Não é assim e esse velho afável, um dos maiores cartunistas de todos os tempos, ainda arruma tempo para projetos mais pessoais. Um deles é a revista The Best of Times, em que publica tiras de personagens do KFS que não são mais publicadas nos jornais. Ele mesmo arruma patrocínios, diagrama e vai enfrente.
Quando perguntado sobre o futuro das tiras para jornal num período de crise como o atual em que grandes jornais e até grupos de mídia como The Tribune Media Company estão fechando suas portas, ele é categórico. Sempre haverá espaço, mesmo que menor, para as tiras em quadrinhos. Afinal, elas são o que de melhor os jornais trazem. E isso, vindo desse velhinho rechonchudo e bom piadista, ele mesmo uma lenda viva da comic strip, é o que mais de auspicioso poderíamos ouvir.

Curiosidades:

Nos anos 70, havia uma revista concorrente, chamada “Recruta Biruta”, publicada então pela Editora Abril.
No interior do campus da Universidade do Missouri-Columbia existe uma escultura de bronze do Recruta Zero sentado em uma mesa de lanchonete em tamanho real. A estátua, feita pelo filho de Mort Walker, Neal Walker, fica próxima ao local onde existia a lanchonete “The Shack”, que pegou fogo em outubro de 1988. Essa lanchonete era a qual o autor do personagem fazia seus desenhos quando estudava na universidade.

Personagens:

Recuta Zero - Personagens

Da esquerda para a direita: Otto, Sargento Tainha, Recruta Zero, Quindim, Roque, Platão, Tenente Escovinha, Tenente Mironga, Cuca, O Capelão, Capitão, General Dureza e Dentinho.
É difícil não se identificar, em algum momento, com o preguiçoso Zero (que já tinha essa personalidade desde o início, na vida universitária), com o ingênuo Dentinho, o simpático e autoritário Sargento Tainha (contraponto e cara-metade de Zero), o ranzinza General Dureza, sua esposa Martha, o irritante Tenente Escovinha, a gostosa Dona Tetê, e tantos outros que fazem parte deste divertido panteão, como Quindim, Cuca, Capelão, Roque, Platão, Otto, Martha, Ky, Lorota, Mironga e Capitão.

2 Comentários Conheça Mort Walker

  1. Clayton

    Excelente publicação, comenta-se muito pouco a respeito dessa obra, mas o recruta zero é sem dúvida um gibi fora de série, lembra minha infância, enquanto muitos amigos se apegavam a heróis do tipo superman, x-men ou coisas do tipo, pra mim ng batia o Zero, aquilo sim era um exemplo de vida a ser seguido, kkkk.
    Parabéns pelo blog, muito bom mesmo.

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