Conheça O Judoka

Carlos da Silva era o judoca brasileiro criado por Pedro Anísio e Eduardo Baron

O Judoka
Em 1969 surgiu outro clássico: O Judoka!
A Editora Brasil-América foi a maior editora de quadrinhos do Brasil. Tornou-se a maior divulgadora de história em quadrinhos do país, publicando revistas das duas arqui-rivais americanas, DC e Marvel. Em 1969 lançou seu primeiro herói brasileiro, o Judoka, criado por Pedro Anísio e Eduardo Baron.

Por uma extrema coincidência, ele surgiu na edição 7 de um gibi que antes publicava um herói norte-americano chamado “Judo Master”, mas os editores afirmam que nem repararam a casualidade.

A história é bem direta: um estudante chamado Carlos da Silva (mais brasileiro não dá, né?) vivia apanhando da turma dos playboys. Um dia, Carlos-san conhece o mestre Shiram Minamoto, que o toma como discípulo. Junto com a namorada Lúcia, que no futuro se torna judoka também e sua parceira, no intervalo da procriação o casal sai pelas ruas de todo país surrando bandidos e outras ameaças esdrúxulas.
Desde o início o objetivo da revista era criar uma forte identificação com os leitores brasileiro através de referências nacionais, incluindo seu uniforme: máscara verde e um quimono sobre um collant com a representalção da bandeira Brasileira. O super-poder de Judoka era… lutar judô. Seu verdadeiro nome era Carlos da Silva, que um dia salvou o mestre de judô Minamoto de ser atropelado. Como agradecimento, Minamoto ensina a Carlos os segredos da arte do judô. Ou seja, o Judoka estava mais para Karatê Kid do que para Super Homem.

revistas O Judoka

O personagem o Judoka em sua identidade secreta era um jovem estudante chamado Carlos que tinha como mestre de Judô o sábio e esotérico Shiram Minamoto. Carlos ou Judoka, não tinha um judomóvel, e sim um volkswagen presenteado pelo tio Bené, com quem trabalhava num escritório de Arquitetura; tinha também uma namorada de nome Lúcia, que mais tarde se tornaria sua parceira contra o crime. Os uniformes da dupla eram praticamente iguais, usavam um macacão de malha justa de cor verde com um losango amarelo no peito e apenas a parte superior do kimono (de cor branca) e a faixa prêta, é claro. As aventuras aconteciam em todo o Brasil apesar de o Judoka ser carioca da gema, pois enfrentou falsos marcianos no triângulo mineiro, confrontou-se com os gigantes de Apuarema em Salvador e enfrentou bandoleiros em plena construção da Transamazônica.
Carlos (O Judoka) representou para muitos adolescentes brasileiros, o mesmo que o personagem de Peter Parker (Homem Aranha) para os jovens norte-americanos. Era um cara comum que tinha família, trabalhava, estudava, tinha uma namorada e uma identidade secreta que lhe trazia sérios problemas. Você fantasiava e pensava: “Puxa vida, isso poderia ter acontecido comigo”. A revista O Judoka durou por 5 anos, de 1969 a 1973, um marco, em se tratando de um herói genuinamente nacional que competia com os heróis e super-heróis da D. C. Comics e Marvel americanas.
O caso do Judoka, contudo, tem algo de interessante: imagine uma década de 70, em plena ditatura militar, e os moleques tendo um super-herói verde e amarelo que exaltava o orgulho e a esperança de ser brasileiro.
As histórias se passavam no cenário do “Brasil, ame-o ou deixe-o”, do limite da censura, e a função do personagem em um caso desses pode ser equiparada a do Capitão América (em termos político) e do Homem-Aranha (em termos de nerdpower) para o povo norte-americano.
Isso acabava por algumas vezes gerar um efeito bizarro: transformava as HQs em uma espécie de guia turístico, parando a trama para exaltar as belezas do nosso país.
Em Maio de 1970, o Judoka e sua namorada Lúcia aparecem na edição especial da Epopéia, intitulada “Chamada Geral”, a revista comemorátiva mostra vários personagens publicados pela EBAL desde sua fundação, essa foi a única vez que Eugênio Colonnese desenhou os personagens.
Pela série passaram Mário Lima e Eduardo Baron e também Juarez Odilon, Cláudio de Almeida, Floriano Hermeto de Almeida Filho (que assinava FHAF), Francisco Sampaio, Fernando Ikoma e Alberto Silva. O Judoka fez tanto sucesso que ganhou um filme, produzido em 1972 e estrelado pela beleza global Elisângela e por Pedrinho Aguinaga, mais conhecido por estrelar um comercial do cigarro Chanceler, o famoso “fino que satisfaz”, no qual tinha a voz dublada por Reginaldo Faria.
O sucesso nos quadrinhos foi tão grande, que durou cinco anos e ainda uma adaptação para o cinema: um fracaso de público estrelado por Pedro Aguinaga, que dizem ter feito com o Judoka o que Ricardo Macchi faria muitos anos depois com o cigano Igor.

Sobre alguns desenhistas:

Floriano Hermeto de Almeida

Floriano Hermeto de AlmeidaFloriano de Almeida ficou conhecido na década de 1970 quando passou a criar histórias para a revista O Judoka, da Ebal, assinando seus trabalhos como FHAF. Ele produziu apenas cinco aventuras com o herói brasileiro criado na Ebal, mas o nome de Floriano ganhou para sempre um lugar na história dos quadrinhos brasileiros e seu trabalho se tornou menção obrigatória de estudiosos de quadrinhos como Moacy Cirne e Álvaro de Moya, pelo tratamento gráfico que ele dispensava às histórias que criava.
A seqüência da queda e do close no olho que Floriano criou em A Caçada, a primeira aventura de O Judoka que desenhou, é uma das mais publicadas em livros de estudos de quadrinhos (como BUM! A Explosão Criativa dos Quadrinhos, de Moacy Cirne. Editora Vozes)
Mas porque ele nunca mais fez nenhum outro trabalho?
Na edição do Jornal da ABI totalmente dedicada aos quadrinhos há uma entrevista com Floriano, onde ele conta porque ele decidiu desenhar para a Ebal, qual foi a história que ele menos gostou, quais os desenhistas que o inspiravam e também responde a essa pergunta.
Na década de 1970 era engenheiro do Metrô do Rio. Como se sabe, para um profissional sobreviver apenas de quadrinhos no Brasil era (e ainda é) muito sacrificante. Ele passava horas e horas desenhando em seu tempo de descanso e lazer. Assim, depois que a revista do personagem foi cancelada, Floriano nunca mais voltou a desenhar quadrinhos. Com apenas cinco trabalhos ele mudou a cara de um personagem. Imagine se no Brasil houvesse um mercado de quadrinhos forte. Floriano de Almeida certamente poderia viver dessa arte! E nos teria dado obras belíssimas.

Judoka - A caçadaO número 13 da revista “O Judoka”, da Ebal, lançada em abril de 1970 (ou seja, há 40 anos!), trouxe uma novidade alvissareira nas Notícias em Quadrinhos, seção que era publicada tradicionalmente na segunda página das revistas em quadrinhos da simpática editora. A notícia publicada com destaque era a chegada de um novo desenhista já na edição seguinte! Ele passaria a integrar o elenco de colaboradores que desenvolviam as aventuras do herói brasileiro. Esse desenhista era o Floriano Hermeto de Almeida Filho, que assinava simplesmente como FHAF. Com um traço marcante, cujo estilo lembrava o de grandes mestres como Guido Crepax e Jim Steranko, e histórias que ele fazia questão desenvolver, bem diferentes de tudo o que havia sido publicado até então, O Judoka ganhava novos rumos sempre que Floriano assumia o personagem. Como se pode ver nas imagens que ilustram este texto (e que podem ser ampliadas em alta resolução), FHAF deu uma grande guinada no personagem.

O judoka tirasOs quadrinhos acima, extraídos da página 29 da história de estréia de Floriano, A Caçada, publicada em O Judoka nº14, de maio de 1970, é uma das mais reproduzidas em diversos livros que tratam de quadrinhos, como alguns escritos por Moacy Cirne. Esta foi a notícia publicada e conta como Floriano chegou à Ebal com seus desenhos:
O número 7 da revista O Judoka apresentou a primeira aventura do Judoka brasileiro, desenhada pelo Eduardo Baron, do nosso quadro de desenhistas. O número seguinte foi desenhado pelo Mário José de Lima, nosso antigo colaborador. E assim foi. Baron desenhou ainda o número 9; do nº 10 até o nº13, os desenhos foram do Mário. Talvez os leitores fiquem intrigados com o fato de o Eduardo não ter desenhado nenhuma história a partir do número 10, mas acontece que ele entrou de férias e estava desenhando um novo álbum para a Ebal, Aprenda as Horas. Por isso, suspendeu os trabalhos da aventura do Judoka intitulada O Robô Assassino. Ela, porém, sairá logo depois da aventura desenhada pelo Floriano. Mas que Floriano é esse? Ah, vocês não sabiam? Bem, vamos contar toda a história, desde o início.
Desde garotinho, Floriano Hermeto de Almeida Filho gostava muito de ler histórias-em-quadrinhos. E foi um dia, já adulto, que resolveu desenhar uma HQ. Como achou boa a idéia de um herói brasileiro, decidiu ilustrar uma história do Judoka. Ele, porém, é engenheiro civil, e todo o seu dia está ocupado – de modo que ele só podia desenhar de noite. Concluída a história veio à Ebal pedindo para falar com nosso Diretor-Geral. E, como sempre é feito, os desenhistas são atendidos e seus trabalhos, examinados. E assim foi. Examinamos os desenhos, e achamos que estavam ótimos; pensamos até que ele fosse profissional. Mas o Floriano falou que era a primeira vez. A história será publicada no número 14 de O Judoka. Ele prometeu trazer mais histórias do Judoka, integrando assim o nosso quadro de desenhistas. Seu estilo é muito influenciado pelo de Guido Crepax, como poderão ver. Damos, aqui, uma amostra de como será a primeira da história.

Mario Lima

O texto abaixo foi extraído das Notícias em Quadrinhos da revista Cheyenne (Reis do Faroeste) nº17, de maio de 1971, e refere-se ao desenhista Mario Lima. Originalmente foram publicadas duas fotos para ilustrá-lo, mas uma delas estava com pouca qualidade para ser reproduzida – justamente a do painel com trabalhos do artista. Para compensar, publico acima duas das melhores capas que o desenhista fez para a revista O Judoka, personagem brasileiro desenvolvido por Pedro Anísio e Eduardo Baron para a Editora Brasil-América (Ebal).

Pedro Anísio e Eduardo Baron“Quando da realização da Exposição Internacional de Histórias-em-Quadrinhos, realizada em São Paulo, houve, concomitantemente, uma Exposição de Histórias-em-Quadrinhos de Desenhistas Brasileiros, no saguão principal do jornal A Gazeta. Dezenas de jovens paulistas ali expuseram os seus trabalhos, e, entre eles, destacava-se o painel de Mario Lima, nosso desenhista desde mocinho, aqui fazendo histórias-em-quadrinhos dos santos da igreja (para a Série Sagrada), sob as vistas exigentes do bondoso Anibal Moreira. Hoje, Mario Lima está radicado em São Paulo, e é ali que desenha, para a Ebal, as histórias-em-quadrinhos de O Judoka, o herói brasileiro de judô e karatê.
Embora atrasadamente, aqui publicamos – para que fique gravado nos anais das histórias-em-quadrinhos – duas fotos históricas: uma, com o painel de Mario Lima; outra, com a visita que ali fez, para prestigiar os artistas brasileiros, o Diretor da Editora Brasil-América, Sr. Adolfo Aizen, acompanhado do jornalista Aramis Millarch, do Estado do Paraná, de Curitiba, admirador incondicional do nosso trabalho e profundo conhecedor da arte de Alex Raymond.”

Veja as revistas no site

Sobre o filme:

Judoka - o filmeSe tem um filme que eu (e um monte de gente) gostaria de assistir de novo, esse filme é O Judoka! Você não sabe do que estou falando? Se você não tem bem mais de 40 anos certamente não vai saber mesmo. O Judoka é um filme danado de ruim baseado no personagem de histórias em quadrinhos criado por Pedro Anísio e Eduardo Baron para a Editora Brasil-América, a lendária Ebal. Dirigido por Marcelo Ramos Motta, que nunca havia realizado um filme antes (e nem depois), O Judoka tem em seu elenco nomes como Elizângela, atriz que na época atuava na novela Cavalo de Aço, da Rede Globo, e Maria Pompeu, veterana atriz que atuou na novela Ciranda de Pedra e na minissérie Queridos Amigos, ambas também da Rede Globo. Mas, coitado do herói… quem foi escolhido para encarnar o personagem nessa produção de quinta, foi o modelo e, na época, o “homem mais bonito do Brasil” e “o fino que satisfaz”, Pedro Aguinaga !!! Imaginem o que acontece, então, nas telas de cinema, quando os fãs viram o rapaz usando uma malha verde e um quimono, tentando “lutar” judô e karatê !!! Foi uma piada. As cenas de ação são tão toscas que chegam a ser hilariantes. Por isso tudo vale a pena ver de novo esse trash esquecido do cinema nacional. Um dia, quem sabe, alguém consegue fazer uma sessão nostalgia com O Judoka, para delírio dos fãs!

Abaixo está o texto publicado numa das Notícias em Quadrinhos das revistas da Ebal que fala da aquisição de O Judoka pela Ipanema Filmes. As fotos que ilustram este texto são reproduções de cenas do filme publicadas na mesma seção:

A distribuição de O Judoka foi comprada pela Ipanema Filmes, da Atlântida. Para os que não entendem o significado disso, a Ipanema Filmes, subsidiária de Roberto F. Farias Produções Cinematográficas, é a distribuidora com maior número de filmes de sucesso do Brasil: Roberto Carlos em Ritmo de Aventura, Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa, Os Paqueras, Roberto Carlos a 300 Km Por Hora, Os Machões… Foram os maiores sucessos do cinema nacional, sem esquecer As Aventuras com Tio Maneco, do impagável Flávio Migliaccio.
Quando a Ipanema Filmes se deu ao trabalho de comprar os direitos da distribuição, provou que acredita em O Judoka e aumentou espetacularmente as chances de sucesso do filme de aventuras, baseado na revista da Ebal. Nossas saudações a esse novo aliado, e nossos votos de que este seja o primeiro passo para muitos sucessos mútuos, no futuro.

A Universidade Gama Filho está seguindo, com a maior atenção, o progresso de O Judoka em direção às telas brasileiras. É conhecido o interesse do Professor Gama Filho pelo Judô. Alunos da Gama Filho têm conquistado prêmios internacionais em campeonatos de Judô. As aulas desse esporte, na Gama Filho, são intensivas e de grande apuro técnico. O que vocês não sabem é que aquela universidade ajudou a filmagem de O Judoka, desde o início.

As cenas de escritório do vilão, o desonesto Marco Antunes, foram filmadas no próprio gabinete do Professor Gama Filho, em três noites seguidas de esforços intensivos. As cenas de luta de rua foram filmadas atrás da Universidade, e a Gama Filho cedeu seus cabos de força para a energia necessária aos refletores pesados.
Também o Professor Gama Filho intercedeu com as autoridades do subúrbio carioca de Piedade, para que a equipe de O Judoka tivesse apoio completo durante os cincos dias, ou antes, as cinco noites em que lá trabalhou. Isto apenas vem provar, novamente, o que todos já sabíamos: o espírito jovem e progressista do Professor Gama Filho, e da íntegra Universidade de que ele é a força orientadora.

Referências: Planeta Mongo | Universo HQ | Wikipedia

1 Comentário Conheça O Judoka

  1. Alberto Marianno

    Olá eu sou analista de sistemas, estou procurando desenhistas para uma parceria em um jogo de judô mobile. Alguém se interessa? tenho uma demo já programada

    Reply

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