Conheça Franco da Rosa

Autor de HQs paulista que produziu seu primeiro fanzine aos 15 anos

Franco de Rosa

Desenhista, editor e roteirista de quadrinhos, nascido na cidade de São Paulo, filho de um jogador de futebol profissional. Por conta da profissão do pai, sua família morou em mais de 20 cidades diferentes entre 1956-70, mudando constantemente entre São Paulo e Paraná.

Em 1967, aos 11 anos, Franco da Rosa conheceu os gibis da editora Edrel. Por meio deles, tomou contato com o trabalho do editor Minami Keizi, que depois se tornaria um grande amigo.

Em 1971, já em SP, alguns amigos de ginásio o convidaram para criar um jornal do grêmio estudantil. Além de desenhar, ele também ficou responsável pela parte gráfica e precisou aprender a operar mimeógrafo. Junto com um colega de classe, produziu seu primeiro fanzine, o “Frama” (1971), com apenas 15 anos.

Um ano depois descobria o Clube do Gibi (a primeira loja especializada do país), de Ademario de Mattos, conhecendo futuros grandes talentos, como: Seabra (com quem produziu o “Boletim do Gibi”), Paiva, Moretti e também os já veteranos Mauricio, Gedeone e Moya.

Entre 1972-74, Franco procurou trabalho em praticamente todas as editoras paulistanas de HQs, sem sucesso. Então começou a estudar desenho por conta, até conseguir trabalho com “O Praça Atrapalhado” para a Saber. Na mesma época, criou junto com Paulo Paiva o jogador de futebol Maloca, trabalho nunca publicado. Mais tarde, Maloca virou “O Maciota”, feito só por Paiva.

Em 1974 novamente se juntou a Seabra e juntos criaram as tiras do “Capitão Caatinga”, que ofereceram ao jornal “Notícias Populares” que aceitou publicá-la. A tira estreiou em julho de 1974 e durou até 1978.

A partir de 1975, Franco fez HQs para o suplemento de quadrinhos da “Folha de S. Paulo”. Paralelamente, ofereceu uma tira de humor, “Chucrutz”, ao “NP”, que logo foi aprovada. A partir de 1976, começou “A Infiel”, HQ que incursionava no erótico.

No final dos anos 70, após tentativa frustrada de criar uma agência distribuidora de tiras para jornais, começa a colaborar com a Ebal, graças a Wagner Augusto. Na época, já desenhava “Chucrutz” para alguns jornais e “Praça Atrapalhado”, além das vinhetas do programa da Ana Maria Braga. Na Ebal participou, até 1982, de seis edições da “Klik” e três da “Gripho”. Ao mesmo tempo, também pela editora carioca, desenhou 20 edições de “Zorro Capa e Espada” (com Seabra).

Naquela época, mais especificamente em 1979, seu amigo Ataide Brás veio de Curitiba e comentou sobre a editora paranaense Grafipar. Após contatar a empresa, Franco produziu uma HQ para a revista “Personal”. Foi o início de uma parceria em que ele e Seabra publicaram regularmente na Grafipar, a ponto de mudar-se para Curitiba em 1981. Dois anos depois, uma crise da indústria pepeleira encareceu os custos da produção, levando a editorà à falência.

Com o fim da Grafipar, voltou para SP, se juntando a Paulo Paiva para criar a Press Editorial em 1983. Cláudio Seto, chefe dos gibis da Grafipar, já vinha há algum tempo incentivando Franco a editar, mas foi apenas na Press que ele assumiu a função oficialmente. No ano seguinte, Franco manteve uma coluna de HQ na “Folha da Tarde” (onde também foi letrista da coluna).

Em 1991, após uma passagem pela Best, passou a editar na Nova Sampa. Junto com amigos, fundou a Mythos em 1997. Em 1998, após sofrer uma tentativa de sequestro, mudou-se para Vinhedo, no interior de SP. Com problemas de saúde, decidiu sair da Mythos e começou a trabalhar para a Escala. Em 1999, junto com Carlos Mann, criou a Opera Graphica, que encerrou as atividades 10 anos depois.

ENTREVISTA DADA AO BLOG BAÚ DA GRAFIPAR EM AGOSTO DE 2006

– Quando você publicou sua primeira HQ?

Em um fanzine em 1971 chamado FRAMA de Franco e Matheus. Eu e o Matheus Bio estudavamos na mesma classe na oitava série em um colégio estadual no Jaçanã, bairro da periferia extrema da Zona Norte de São Paulo (é o Jaçanã da música do Adoniran Barbosa). A secretaria de ensino estadual fechou o jornal da escola devido a um cartum que eu fiz para a capa do jornal. Era o tempo brabo da repressão e haviam filhos de guerrilheiros na minha turma. Dois deles escreviam para o jornalzinho. Com o impedimento do jornal eu e Matheus resolvemos fazer o nosso próprio fanzine. Utilizavamos o mimeógrafo do grupo de escoteiros do qual Matheus era um dos graduados. Matheus hoje é dono de uma empresa de informática, trabalha com home pages e CD-rom. Faz comigo as revistas com CD-Rom. (Cinemidia, Super-Club, Hanimidia e Vida Fantástica)
Depois consegui publicar tiras de quadrinhos no jornal paulistano Noticias Populares. Uma série chamada Capitão Caatinga que passei a fazer com o Seabra. Desenhavamos e escreviamos intercalando-nos nas histórias. Depois da primeira aventura do Capitão Caatinga que saiu em julho de 1974 (apenas 30 tiras). Bolei uma série de humor, Chucrutz, que não tinha personagem fixo, para o Seabra desenhar, para o mesmo jornal, depois de um mês de publicação do Chucrutz voltamos com o Capitão Caatinga, agora como foi até o final, com o Seabra como desenhista até o final da série em 1978, depois de 1000 tiras. Seabra também assinou os roteiros da série muitas vezes. No terceiro mês que fomos entregar material ao Noticias o editor, o Ebraim Ramadam nos pediu para fazer uma novela em quadrinhos. Começamos com histórias de 30 capítulos diários, (saia inclusive aos domingos). A novela foi um sucesso. Era bastante popularesca e possuia muita conotação erótica e dramalhão. A página saiu nos primeiros anos na última página do jornal, só depois passando para a sessão de quadrinhos. Assim por 3 anos e meio eu e Seabra ficamos trabalhando e aprendendo a fazer HQ no Noticias Populares com algumas incursões por fanzines como Bix, Gudizo, Quadrimania, O Fanzine, O Saco e o suplemento Quadrinhos da Folha de São Paulo (dominical em formato horizontal 32 x 19 cm). Como o Seabra desenhava muito bem figura humana e ele ficou desenhando a novela e o Capitão enquanto eu me dediquei ao humor no Chucrutz. O curiosos é que como nas primeiras 30 tiras o Seabra caiu para um estilo “ziraldiano”, eu continuei a série copiando o estilo dele e dali acabei adquirindo meu próprio estilo de desenho de humor

– Quando começou a trabalhar para a Grafipar?

Comecei na Grafipar logo em seu inicio em 1979. Trabalhava em propaganda durante o dia, estudava jornalismo a noite e fazia o Zorro Capa e Espada e a revista de humor Klik para a Ebal, nos finais de semana. O Seabra conheceu Ataide Braz e o Roberto Kussumoto ao dar uma palestra sobre quadrinhos no Senac, para a tuma do Professor Silvestre Mendonça. Eles eram alunos do Silvestre que havia sido contatado por um amigo Retamozzo, artista plástico de Curitiba que estava envolvido com a criação da Grafipar. Seabra, Ataide e Kussumoto começaram a publicar na revista Personal, da Grafipar, que não era um gibi. Era uma revista masculina em formatinho, 13,5 x 20,5 cm, com 48 páginas, de circulação quinzenal e publicava historietas com no máximo 5 páginas. A partir do interesse de público quanto a estes quadrinhos eróticos, do grande afluxo de novos autores oferecendo trabalhos do gênero. Retamozzo e Faruk El-Katib, o dono da editora, resolveram criar uma linha de quadrinhos eróticos. Isso foi viabilizado devido a presença de Claudio Seto, que então contava com 31 anos e já havia produzido muitos quadrinhos semi-eróticos para a Edrel (1968-1972). Quando a Grafipar nasceu, Seto, que é da região de Lins, interior de São Paulo, estava morando em Curitiba e trabalhava com um ex-redator da Edrel, Wilson Carlo Magno. Eles formavam uma dupla de criação de uma agência de áudio-visual. Retamozzo chegou a bolar a estrutura básica dos quadrinhos eróticos da Grafipar antes de sair da empresa poucos meses depois de circularem os primeiros números: Eros, com quadrinhos eróticos urbanos, Neuros, erotismos e terror, Proton, erotismo e Ficção e Perícia, policial e ficção. Foram os primeiros quatro títulos. Assim havia a cada semana um novo gibi na banca para um público que estava assistindo a abertura…tanto política quanto da censura de comportamento. A revolução sexual avança pelo Brasil varonil. No primeiro ano da Grafipar as publicações iam para Brasilia para a censura federam e voltavam com “x” em dezenas de quadrinhos. Por isso muitas das histórias tem quadrinhos em preto, “chuviscos” ou ainda aquelas engraçadas bolinhas pretas nas partes imprópias dos corpos dos personagens.

– O fato da editora trabalhar essencialmente com quadrinhos eróticos era um incômodo para os desenhistas ou roteiristas? Ou não? Todo mundo gostava de fazer erotismo?

Não era um incomodo todos gostavam do que faziam a convivência com a turma de Curitiba que tinha também Paulo Nery, Eros Maichrowicz e Toninho Lima, que moravam na cidade ou em cidades próximas, além da frequente presença de Ataide, Josmar Fevereiro, Seabra, Rodval Mathias, Kimio e Mozart Couto (só por telefone- ele não sai de Juiz de Fora) – era um estímulo muito grande. A Grafipar e a Vecchi surgiram num período em que estavam abrindo-se novos horizontes. Nós éramos novos autores. Havia uma nova geração em ação. Queriamos marcar nossa presença. A sexualidade também estava aflorando em nós. Tínhamos 22 anos de idade em média. Seto e Watson eram os mais velhos, na casa dos 30. Havia a abertura. E a revolução sexual comendo solta. Naumin Aisen da Ebal achava nosso trabalho ótimo apesar do “Seu” Adolfo Aisen repudiar… Um dia fui ao Rio entregar um lote de trabalhos e ele me chamou para um particular. E só ficou falando que havia trazido os quadrinhos para o Brasil como um a coisa saudável para as crianças. Que os quadrinhos era uma arte pura e que “certos jovens” estavam deturpando o objetivo das histórias em quadrinhas. Ele realmente estava muito magoado. Eu me senti como um coroinha que traíra a confiança do clero. Afinal “seu” Aizen sempre foi o papa dos quadrinhos no Brasil.

– Seus textos sobre a grafipar são sempre muito elogiosos. Na sua opinião, o que a Grafipar representou para a história da HQB?

Foi um grande momento para os autores de quadrinhos dramáticos. Não fizemos só HQE lá. Houve também gibis de aventuras e infantis. Mozart pode lançar seu Jackal, Havia Kate Apache do Seto e Mozart, Pude lançar meu Zamor, Watson lançou seu Robo Gigante em cores e Seto seu Super Pinóquio. Mas era no erotismo que todos nós nos realizavamos mais. Os outros gêneros eram tentativas de encontrar novas brechas de mercado. A forma como Seto dirigia os quadrinhos lá. Suas instruções e a liberdade que ele nos dava permitia qualquer tipo de experiência. Nenhuma editora permitia tal coisa. A Vecchi talvez, mas o academismo do terror não permitia muitas liberdades. Já o erotismo permite tudo. Bastava ter momento de sexo que as histórias rolavam bem. O fato dos autores conviverem juntos, tanto, lado a lado, como se telefonando ou se escrevendo, como fazíamos naquele período era muito estimulante. Surgiu um movimento autêntico. Foi um período iluminado. Dos quase 250 gibis que a Grafipar lançou pode-se fazer uma seleção e chegar a 30% de material de ótima qualidade. Há muitas coisas daquele período que são reprisadas até hoje com atualidade charme.

– Qual era a orientação da editora? Havia liberdade para criar histórias e desenhos, ou havia regras rígidas?

Bastava entregar trabalhos publicaveis e dentro do prazo de fechamento de cada revista. O time sempre superava a espectativa.

– Na sua opinião, quais foram os grandes momentos da Grafipar?

O melhor período da Grafipar é em 1981/82 quando os autores estavam maduros e a estrutura de produção azeitada. As histórias de maria Erótica do Seto são geniais, Watson fez os melhores trabalhos “heavymetalanicos”, Itamar atingiu um traço impecável, Mozart criou historias sombrias com muito rítmo. Kussumoto desenhou como nunca, Seabra abusava da anatomia feminina, Vilachã brincava com música e quadrinhos, Josmar fevereiro pode revelar seu talento oculto no anonimato dos trabalhos na publicidade, ou sob a assinatura de Nico Rosso de quem fora asssitente quando garoto. Shimamoto apresentava um novo estilo de desenho e narrativa. Colin transbordava humor, Padrella nascia como um Neal Gaiman antecipado e Magno escrevia short-storys impagáveis. Na Grafipar eu pude brincar com meus ídolos preferidos. Como sempre fui estudiosos de quadrinhos, nos quadrinhos eróticos da Grafipar pude realizar histórias imitando o traço de vários autores como Alex Toth, Jeff Jones, Guy Pelaert, Garcia Lopez, Crepax, Barry Smith, Neal Adams, Joe Kubert e Enrique Breccia. Eu decalcava os desenhos deles. Dá até para publicar um livro só com estes pastiches. Fazer aquelas homenagens era um grande prazer para mim e também um grande aprendizado. Porque observando a forma como cada um resolvia os detalhes em suas artes me ensinaram muito.

– Por que a editora acabou?
Não sou economista nem mesmo entendo os princípio básicos de contabilidade para poder afirmar nada de forma “vereticta” a respeito. Sei que dois fatores levaram a empresa a dificuldade de caixa: Primeiro a Grafipar comprou um jornal diário “e tabloide” que fazia oposição ao governo local. Ao tentar manter a estrutura diária sem os anúncios de estatais e grandes empresas é difícil. O formato tablóide a meu ver também não ajudou. No Brasil só o Zero Hora de Porto Alegre, que é uma instituição, circula neste formato. Não conheço outro que tenha vingado. O outro fator forte foi a crise econômica pré-cruzado de 1983. Naquele período milhares de empresas fecharam…Também a Editora Vecchi fechou. Assim como a Idéia Editorial que também publicava quadrinhos eróticos (importados da italia).
Franco e Claudio

– Qual a influência da grafipar no seu trabalho posterior como editor? Pode-se dizer que a press foi uma tentativa de continuidade da grafipar?

A influência foi maior do Claudio Seto. Ele sempre foi um artista que admirei. Eu curtia muito os trabalhos dele na Edrel. Gostava principalmente porque eram “mangá” ou melhor “gekiga”, como preferem os puristas. Ao conhece-lo na Grafipar minha admiração e respeito por ele aumentou junto com a amizade. Ainda hoje é uma pessoa com quem converso muito. A Press foi um continuidade natural da Grafipar no tocante a produção de quadrinhos eróticos made-in-Brasil. A empresa nasceu do sonho de meu mano Paulo Paiva. Ele já havia tentado criar uma cooperativa de quadrinhistas e cartunistas em 1980. Mas cada artista só queria saber de sua própria prancheta. Também os envolvidos eram muito jovens e faziam mil e um free-lancers. Havia muito trabalho. Quando voltei de Curitiba para São Paulo montei um estúdio com o Seabra no centrão de São Paulo. No mesmo local onde eu estava três anos antes, só que dividindo o espaço com o Novaes, outro mano, cartunista e caricaturista insuperavel que me levou depois para a Folha da Tarde em 1984. Então apareceu o Paiva e seu sócio, o jornalista Rivaldo Chinen, para dividirmos o mesmo espaço. Logo estavamos todos trabalhando para uma editora nova, a NG. E poucos meses depois o Paiva e um dos sócios da NG resolveram lançar novas aventuras do Zorro Capa e Espada, que estava em domínio público, mais um gibi de humor e um outro de terror. Tudo isso baseado em pesquisas feitas pelo José Guimarães, junto ao distribuidor Fernando Chinaglia, onde o Guimarães era muito bem relacionado. As pesquisas apontavam que revistas de produção barata e com tiragem pequena encontrariam um bom espaço no mercado naquele momento. Assim nasceu a Press, que na verdade se chamada Editora Maciota. Porque Maciota era o nome do personagem de humor que o PP, ou Pepê, ou Paulo Paiva escrevia e desenhava na Placar. Os lançamentos não foram muito bem. Então o Paiva me convidou para fazer um gibi de quadrinhos eróticos. Tive a sorte de fazer um pastiche da Close. O travesti estava em alta e o gibi deu certo. Então assumi a produção dos títulos semanais de quadrinhos da casa Close, Sexo em Quadrinhos, Mundo do Terror e Coisas Eróticas. Não chegamos a fundar um movimento. Dei sorte por conhecer todos os bons caras que trabalhavam, para a Grafipar e Vecchi. Nossa produção foi muito menor que a de ambas. Também os autores já estavam mais profissionais. Todos mais maduros. Como nossa estrutura era menor e vivíamos um momento econômico eufórico pagávamos melhor. Também muita gente nova nos procurou e pude dar oportunidade a quem merecia. Mas as brigas internas devido a inclusão dos filhos do sócio majoritário fez com que o Paiva e eu nos desligássemos. E foi um a situação tão frustrante que não tivemos gás para enfrentar uma nova empreitada. Considero o período Press como conclusão do movimento Grafipar. Isso porque na Press, devido aos pedidos dos leitores, os quadrinhos tinham que ser explícitos. Aí sim passou a acontecer o constrangimento dos autores, que logo passaram a assumir pseudônimos. E logo na seqüencia surge a oportunidade de se publicar muitas das produçôes da Maciota na Europa via Commu, onde Mozart Couto Seabra, Roberto Kussumoto e Rodval Mathias foram os desenhistas que mais participaram e os roteiristas ataide Braz e Julio Emilio Braz, ambos os coordedadores da Commu no Brasil em períodos distintos. Mas houve outro grande destaque brasileiro na Commu Cezar Lobo, que além de albuns fez calendários e varios cartões postais.

– Você chegou a viver o período em que os quadrinhos foram perseguidos, inclusive com queima de revistas em praça pública? Como foi isso?

Não o de queima de gibis. Cresci sabendo que gibi era coisa de preguiçoso. Meus pais compraram meus primeiros gibis que eram Disneys e Hanna-Barbera. O primeiro gibi que eu me lembro ter ganho era um Mickey que vinha com um palito de sorvete colado na 2ª capa para se trocar por um picolé da Kibon em padaria. O gibi possuia muitas de suas págians impressas só em duas cores. E era minha mãe quem lia as histórias para im e minha irmã. Eu devia Ter uns quatro anos. Depois ganhei um livro de histórias do Pato Donald. Não era em quadrinhos e eu consegui ler inteiro e não estava na escola ainda. Depois ganhei um Cavaleiro fantasma em preto e branco em uma viagem de trem para o Paraná, aos 7 anos. E quando me mudei para lá descobri um vizinho que possuia um baú de gibis, mas ele não emprestava os gibis. Eu os folheava junto deles. Só me lembro que um dos títulos era Don Chicote. Depois um outro vizinho surgiu com uma meia dúzia de Tio Patinhas. Só me lembro da história do Elefante de Tromba Quadrada, que mais tarde descobri que era dos Carl Barks. Eu nunca tinha ido a uma banca até os 10 anos quando mudei com minha família oara o bairro de Santana em São Paulo. Meu pai montou uma pequena mercearia e poucos meses depois um senhor conseguiu licensa na prefeitura para abrir uma banca bem na porta da mercearia. Era o seu Lippi, avo da menina atriz Nadia Lippi, que naqueles dias fazia a novela infantil A Pequena Orfã. Eu ficava a tarde no balcão da mercearia desenhando e lendo gibis que eu comprava e muitas vezes tomava emprestado do seu Lippi. Aí então virei um devorador de gibis. Passei então a colecionar Tarzan, Perdidos no Espaço e os Super-Herois Shell (Marvel). Mas me fascinavam mais os gibis feitos por brasileiros como Golden Guitar, Targo, Hur e um que eu nunca conseguira comprar, um leitor chegou a banca primeiro…Magia Verde. Que mais tarde adquiri em um sebo. Com capa quadrinhos de Paulo Fukue. Não era um gibi esotérico como pode seu título sugerir hoje. Era um gibi tipo tarzan, com histórias de aventuras na amazônia, com bichos pré-históricos. Me lembro de um vendedor de enciclopédia que um dia chegou anunciandfo que todo gibi de faroeste, super-herois e aventuras eram perniciosos. Para ele gibis permitidos para crianças eram os de Disney, Luluzinha, Gasparzinho e cia. Nos ônibus de minha infancia havia cartazes com os dizeres “hoje mocinho amanhã bandido” com ilustração típica de gibis de faroestes. Aquilo realmente deixava a gente preocupado. Mas os meus pais não engoliam aquela lorota. A pressão era maior na escola. No diz que diz dos colegas. Nos anos 60 os gibis vinham com certos alertas. Os juvenis traziam inscrições “Para Maiores de 13 anos”. Muitos continham selo “aprovado pelo código de ética”, que só fui descobrir muito mais tarde que era uma versão brasileira para o código americano que surgiu no período do macartismo. Que por sua vez não tinha nada a vez com a caça as bruxas ou o macartismo em sí. E sim com o senado americano que passou a se preocupar com a moral da juventude ianque. Coisas como a classificação etária para se entrar no cinema ou em uma casa noturna. No Brasil esse código foi realizado num esquema de “acordo de cavalheiros” pelos grandes editores Ebal, Rio Gráfica, Abril, Vecchi e Cruzeiro, para bloquear a crescente industria editorial paulista da região da Mooca, de onde surgiram centenas de gibis de faroeste, terror, policial e infantis como Bidu de Mauricio de Souza. Os primeiros gibis de terror que lí, Naiára a Filha de Drácula e A Múmia, desenhada por Sérgio Lima. Foram as escondidas. Achava as capas eróticas a beça. Principalmente o da Naiara com aquele seu micro vestido. E estava escrito na capa que eram gibis para adultos. Mas eu não me interessei pelo tema. Achei as histórias confusas. Falavam de coisas que eu não conhecia. Exigiam um certo referencial. Mas numa tarde chuvosa de 1967, quando acabou a energia no meu bairro a única coisa que me restou para ler foi um pocket book da Ediouro que um freguês esquecera sobre o balcão da mercearia. O Gato Preto de Edgar Alan Poe. De literatura eu só havia lido o Pato Donald, Robin Hood e Pinóquio. Foi um grande baque. E eu adorava torturar gatos. Vivia atirando flechas com prego afiados nas pontas neles. Tinha até escalpos dos bichos. Depois tive a insanidade de ler um gibi do Drácula “a noite”. Anos mais tarde descobri que o Drácula era do italo-brasileiro Giorgio Scudellari. Na hora de dormir tratei de colocar o gibi debaixo de uma mala na despensa e com um peso em cima. Tinha medo que o vampiro saísse dos quadrinhos e me pagasse. Então passei a propagar na escola que gibi de terror era coisa do diabo. Até que conheci os netos da vizinha da minha avó que morava em Santo André-SP. Eles eram filhos do Zé do Caixão. Filhos do próprio capeta, ora. E eram crianças legais e divertidas como qualquer outra. Tratei então de adquirir uma coleção da Múmia de uma vizinha em troca de uns desenhos que fiz para ela para um trabalho de escola. Ela era da poucas garotas que eu conheci que gostava de ler gibis. Se bem que a série A Múmia, escrita por Gedeone Malagola e desenhada por Sergio Lima é praticamente uma novela. Cada gibi trazia uma história fechada mas a trama possuia uma continuidade que só os quadrinhos da Marvel viriam apresentar anos depois. Considero esta série uma das obras primas da HQB.

– Um de seus textos afirma que a grafipar é a terceira geração de quadrinistas? Quais são as outras?

O cartunista Xalberto acha que essa divisão de gerações que eu acabei difundindo é uma bobagem imensa. E como eu gosto muito do Xalberto e de seus trabalhos.(Ele é genial.) Explico…essa divisão de gerações ocorre em relação aos trabalhos no estilo acadêmico dos quadrinhos brasileiros…não vale para os quadrinhos de humor e infantis. Porque o cartun brasileiro e os desenhos infantis não possuem períodos ou ondas de publicação como aconteceu com os gêneros terror, erótico, ficção, aventura, faroeste. Enfim os quadrinhos de figuras humanas. A primeira geração foi a de Jayme Cortez, com Zezo, Shimamoto, Edmundo Rodrigues, Colin, Valmir Amaral, Manoel, Gedeone, Sergio Lima, Nico Rosso e outros feras. São os autores dos quadrinhos de terror, western, romances e aventuras da década de 50, das editoras Rioso Gráfica, Jupiter, La Selva, Continental. Depois surgiram os autores da Taika, Edrel, Ebal, Graúna e outras dos anos 60, como Apa, Paulo Hamasaki, Rubens Cordeiro, Zalla, Colonnese, Salatiel, Cocoletti, Pedro Mauro Moreno, Claudio Seto, Fernado Ikoma, Fhaf e Baron entre outros. A terceira geração vem com o erotismo e o terror da Vecchi, como Watson, Gustavo Machado, Itamar, Ota, Lobo, Ofeliano, Mozart, Rodval, Seabra, Olendino e outros. Creio que a Quarta geração surgiu no final da Maciota com Bené Nascimento, Deodato Filho, Emir Ribeiro, Luiz Gustavo, João Costa, José Marcio Nicolosi, Gian Danton, Donizeti Amorin e Valdir Fernandez. A Quinta geração é a dos autores que pegaram a produção de comics para os EUA como Edilbenes, Alvaro Omine, Carlos Mota, Klebs, Fabio Laguna, Marcelo Campos, Roger Cruz e outros cobras. É uma coisa cíclica. Parece que vem ocorrendo a cada cinco anos. A Sexta geração é a atual com Érika Awano, Marcelo Cassaro, Luiz Kleber, Edu, Daniel HDR…enfim os que conseguem lugar para publicar.

– De todos os seus trabalhos para a Grafipar, qual você considera o mais importante?

Cavalgando e a tal história que fiz desenhando a cinco graus abaixo de zero, são importantes porque aprendi muito de desenho e arte-final enquanto realizava as duas com técnicas diferentes. Gosto também de uma história que fiz toda em pincel, que não tenho mais os originais, nem mesmo o gibi, mas foi publicada. Tinha muitas manchas pretas. Mas considero importante mesmo duas delas. Cacos do espelho que é uma HQ curta feita em original grande com caneta de fluxo continuo e desenho contrastados. Acho que dei os originais para o Shima. Ela possui uma narrativa muito dinâmica e roteiro bem apurado. Foi inspirada em um conto do Rubens Fonseca, que saiu em uma Playboy de 1981. A outra é um capitulo de Carga Pesada, uma edição toda escrita e desenhada pela equipe Octopus em uma semana. Para mim é importante pelo grafismo e por Ter sido desenhada sem utilização de referências para as imagens. O que me deu muita insegurança durante a relaização mas muita satisfação depois de concluida.

ENTREVISTA DADA AO O GRITO EM AGOSTO DE 2009

Você é um dos proncipais editores de HQs do Brasil, tendo já trabalhado com várias editoras diferentes. Fale um pouco sobre elas e os títulos que editava…

Comecei a edi­tar para a EBAL, em 1978/79. Como edi­tor inde­pen­dente. Aliás, como quase sem­pre atuei. Eu estava come­çando pro­fis­si­o­nal­mente como rotei­rista e artista de HQ. Eu fazia o Praça Atrapalhado para a Editora Saber, dese­nhava o Maloca, escrito pelo Paulo Paiva, para a Saber, tam­bém, fazia as tiras Chucrutz (de humor) para jor­nais, e tam­bém divi­dia, alter­na­da­mente, as tiras de aven­tu­ras do can­ga­ceiro Capitão Caatinga para o extinto jor­nal Noticias Populares de São Paulo (que eram rea­pre­sen­ta­das no jor­nal Diário, de Campinas).

Eu publi­cava em um jor­nal esco­lar no Jaçanã. E tam­bém fan­zi­nes com os ami­gos que freqüen­ta­vam a Livraria Gibi, no Centro da cidade. Daí, em um dia, fize­mos uma excur­são de um único dia a EBAL. Como o pas­seio foi com­bi­nado com uns três meses de ante­ce­dên­cia, eu con­se­gui reu­nir com os cole­gas que faziam tiras e outros ami­gos car­tu­nis­tas que vínha­mos con­ta­tando naquele período de apren­di­zado, e levei uma edi­ção pronta da revista de humor KLIK, para mos­trar ao Aizen.

A Klik já exis­tia. Tinha sido cri­ada pelo Estúdio CRC do Rio, que era for­mado pelo Carlos Chagas, Roberto Azevedo e Claudio Almeida. Eles dei­xa­ram a Klik para fazer a Crazy para a Bloch e depois unirem-se ao Ota na Mad. Quando o CRC inter­rom­peu a pro­du­ção da KLIK, a revista foi con­ti­nu­ada por uma equipe pau­lis­tana enca­be­çada por Chico Osório, Negreiros, Claudio, Munhoz, Farias e Paulo Paiva. Nesta fase a revista foi edi­tada por Wagner Augusto, de forma inde­pen­dente. Eu che­guei a par­ti­ci­par do último numero da KLIK do Wagner.

Acontece que eu tinha muito con­tato com o Wagner. Ele é um pouco mais velho que eu e me ensi­nou muito sobre o mer­cado edi­to­rial. Ele come­çou garoto a freqüen­tar as edi­to­ras do bairro da Mooca em São Paulo. Ele fazia car­tuns ano­ni­ma­mente para a  Jotaesse, Taika, Bentivegna, Edrel. Conhecia todo mundo. Até os vete­ra­nos da Júpiter, Continental, Outubro, Penteado, FTD, Graúna, M&C, e quem mais tivesse se aven­tu­rado a publi­car qua­dri­nhos. Acabei por fazer a mesma facul­dade que ele até. A Alcântara Machado, que quando entrei virou FIAM. Onde tam­bém estu­dava o Negreiros.

Gosto de falar desse come­ci­nho por­que a gente aprende muito com quem se rela­ci­ona nesta fase. Faço uma ana­lo­gia com médi­cos, por exem­plo. Que são pro­fis­si­o­nais com os quais con­vivo muito. Tenho mui­tos paren­tes no ramo. Eles sem­pre tem muito pra falar de seu período aca­dê­mico. E como aprendi edi­ção de arte na prá­tica e não na facul­dade, este ini­cio com os car­tu­nis­tas e escri­to­res foi muito rico.

E ao tomar con­tato com tan­tos auto­res de dife­ren­tes ori­gens, que cola­bo­ra­vam com dis­tin­tas empre­sas eu fui con­ta­tando cada vez mais edi­to­ras. No entanto, devido a minha total indis­ci­plina eu nunca con­se­gui me ali­nhar as empre­sas já exis­ten­tes. Eu tra­ba­lhei um pouco em pro­pa­ganda e TV. Mas pre­feri me fixar com autor e edi­tor independente.

Editei para a EBAL a Klik, par­ti­ci­pei da Gripho e tam­bém rea­li­zei um espe­cial da Cinemim sobre 007 O Foguete da Morte (que foi par­ci­al­mente rodado no Brasil), pro­duzi o Zorro em par­ce­ria com o Seabra e apre­sen­ta­mos outros pro­je­tos que não foram apro­va­dos. Aizen me deu o maior pito quando des­co­briu que eu cri­ava qua­dri­nhos eró­ti­cos para a Grafipar. Ele me cha­mou pra um par­ti­cu­lar e mur­mu­rou; “Eu não trouxe as his­tó­rias em qua­dri­nhos para o Brasil para serem trans­for­ma­das nisso. É uma imo­ra­li­dade. Histórias em qua­dri­nhos devem ser fei­tas para crianças.”

Quando me mudei para Curitiba, para tra­ba­lhar como autor para a Grafipar, ainda fiquei pro­du­zindo alguns Zorros Capa-e-espada. Mas a revista dei­xou de cir­cu­lar pou­cos meses depois. E na Grafipar eu só fui me dedi­car a edi­ção dois anos depois. Isso depois de ter edi­tado e pro­du­zido três edi­ções do tablóide Vaca Amarela, que era um clone da Klik. Porém no for­mato do Pasquim, o grande veí­culo inde­pen­dente na época. Mas nin­guém leu o Vaca Amarela. Por ser em for­mato tablóide e ter cir­cu­lado jus­ta­mente no tri­mes­tre em que as ban­cas de São Paulo e Rio eram fre­quen­te­mente ata­ca­das por ati­vis­tas de direita. Quando algu­mas delas até foram quei­ma­das por expo­rem os jor­nais tablói­des como Movimento, Opinião, Pasquim e outros…A Vaca foi pro brejo. Fechou.

Eu fiquei em Curitiba até 1983, ano em que uma crise econô­mica inter­na­ci­o­nal levou ao encer­ra­mento várias edi­to­ras. Inclusive a Grafipar e a Vecchi. Os gran­des selei­ros de qua­dri­nhis­tas bra­si­lei­ros. Logo, em 1984 eu estava divi­dindo um estú­dio de pro­du­ção com o Seabra no Centro de São Paulo quando abri­mos espaço para Paulo Paiva e Rivaldo Chinem ins­ta­la­rem a Editora Maciota. Logo eu estava edi­tando pela Maciota o As Aventuras do Zorro, Close Quadrinhos Eróticos e Mundo do Terror.

Foi com na Maciota que eu me tor­nei edi­tor. A empresa logo mudou de nome para Press Editorial. Mas con­ti­nuou a estam­par o selo Maciota em sua pro­du­ção eró­tica. Por dois anos foi um sucesso. Mas eu e Paiva saí­mos do empre­en­di­mento por dis­cor­da­mos do sócio. Paulo Paiva, como exce­lente autor de pia­das e car­tuns em pou­cos meses estava publi­cando suas obras em impor­tan­tes revis­tas como International e Placar. E logo ini­ciou sua par­ce­ria com Ary Toledo, edi­tando deze­nas de seus livros de pia­das, encon­trando na Nova Sampa a edi­tora ideal para seus novos investimentos.

Seguindo a tri­lha de meu amigo Paiva eu fui para a Nova Sampa, onde nos pri­mei­ros anos me dedi­quei aos qua­dri­nhos. Mas depois pas­sei a pro­du­zir edi­ções de vários esti­los. A prin­cí­pio só de entre­te­ni­mento como revis­tas pos­te­res de ídolos, depois pas­sando para edi­ções de culi­ná­ria, femi­ni­nas e todos os gêne­ros pos­sí­veis. Mas foi pro­du­zindo as revis­tas de ati­vi­da­des da fran­quia Cavaleiros do Zodíaco que me dei melhor.

Mas eu acho que meu período ante­rior a febre de Cavaleiros foi a mais cri­a­tiva e pro­vei­tosa. É a que eu mais gosto.

Em 1997, a Nova Sampa entrou em crise. Novamente o mer­cado edi­to­rial sofria mudan­ças. Muitas edi­to­ras dei­xa­ram de pro­du­zir. Então eu me uni ao Dorival Vitor Lopes e ao Hélcio de Carvalho na cri­a­ção da Mythos Editora. Foi um iní­cio bonito. Eu criei o logo­tipo da empresa. E dese­nhei a mão aquele eme incen­diá­rio. Fui feliz naquela peça. E um con­tato que eu havia feito com um agente lite­rá­rio pos­si­bi­li­tou que a Mythos lan­çasse a Starlog Brasil. Uma revista que não dava gran­des lucros mas nos ensi­nou a atuar com um pro­duto impor­tado. Seguir regras inter­na­ci­o­nais. Conhecer os parâ­me­tros de uma publi­ca­ção de sucesso. Conceituada. E que pos­si­bi­li­tou a aber­tura de algu­mas portas.

Na Mythos pude­mos fazer o Oscarzinho. Onde escrevi mui­tas das his­to­ri­nhas e pude apli­car um tipo de nar­ra­tiva em revista infan­til fora dos padrões da “escola Abril” e do Maurício de Souza, em vigor então. Porém um sério pro­blema car­díaco me levou a morar fora de São Paulo. E eu não con­se­guia mais atuar na Mythos de longe.

Foi quando eu, seguindo os pas­sos de meu velho amigo Paiva, fui até a Escala, onde ele estava nova­mente atu­ando como edi­tor inde­pen­dente da área de humor.

E depois que chegou à escala, como foi?

A Escala, pos­si­bi­li­tou uma certa esta­bi­li­dade e até mesmo par­ce­rias. De certa forma dei con­ti­nui­dade a um estilo edi­to­rial que foi ins­ti­tuído pela Nova Sampa. A edi­tora de onde nas­ceu a Escala. O Carlos Cazzamatta dono da Nova Sampa era sócio do Hercílio de Lorenzi da Escala. Nas duas edi­to­ras tive total liber­dade de cri­a­ção. Mas com o volume de tra­ba­lho cres­cendo só dá para atuar em uma delas por vez. Como me mudei para Vinhedo, no inte­rior de São Paulo, mon­tei um estú­dio de pro­du­ção local e me dei bem.

Com relação aos anos de 1980 e a primeira década de 2000, quais seriam as principais diferenças mercadológicas? Como avaliam as tendências de mercado hoje?
São 20 anos de dife­ren­ças. Na década de 80 ainda não havia vídeo games e vídeos. Nem TV a cabo nem inter­net. Ou seja. Os gibis ainda eram um grande pas­sa­tempo e um bom pro­duto de entre­te­ni­mento. As tira­gens esta­vam em declí­nio mas ainda eram acima de 100 mil cópias, nas publi­ca­ções infantis…Já na década de 90 os gibis per­de­ram público para os games e vídeo…No ano 2000 com a inter­net e TV a cabo a garo­tada pas­sou a ter mais opções de laser. Como uma célula, os gibis ainda per­de­ram mais. A mídia gibi vai sem­pre dimi­nuindo e se eli­ti­zando. E, como um pro­duto cada vez mais eli­ti­zado, é sofis­ti­cado e só atende aos lei­to­res que gos­tam de seu código de lin­gua­gem. O qua­dri­nho é cada vez mais artístico.

Sendo editor, não só de HQs, o que acha do mercado editorial nacional?
O mer­cado sem­pre está aberto as novi­da­des. E sem­pre con­some pro­du­tos da moda. Como ocorre com os man­gás hoje. Ou deze­nas de publi­ca­ções tra­tando de História. O mangá já está se soli­di­fi­cando e tornando-se um pro­duto con­ven­ci­o­nal. A nova onda são as ver­sões de séries con­ven­ci­o­nais em lin­gua­gem \de mangá. O “man­gai­jin” como se dizia anos atras. O mangá estran­geiro ao japonês.

Depois da saída da Mythos como foi? Continua com participação na empresa?
Mudei-me para o inte­rior de São Paulo. Fui tra­ba­lhar com revis­tas infan­tis. Não pre­ten­dia edi­tar mais Tex, Marvel e coi­sas do gênero. Abracei uma pro­du­ção que não deu certo. Voltei para a Mythos em 2006. Mas, nova­mente não con­se­gui me adap­tar ao estilo de tra­ba­lho da empresa. Creio que atuo melhor como pro­du­tor inde­pen­dente em meu estúdio.

Por anos você, em parceria com Carlos Mann, esteve a frente da Editora Oper Graphica. Em 2008 ela encerrou as atividades. Porque essa decisão tão repentina?
A deci­são não foi repen­tina. Nos últi­mos dois anos já havía­mos dei­xado de ver o qua­dri­nho como um cami­nho para nos­sos obje­ti­vos. Preferimos fechar a Opera, mas con­ti­nuar com nos­sas pro­du­ções edi­to­ri­ais em sis­tema de estú­dio. Realizamos obras que nos dão mais satis­fa­ção e rea­li­za­ção. Continuamos tra­ba­lhando jun­tos assim.

Ainda com relação a Operta, ela inaugurou um sistema diferente de distribuição de HQs, o H! Club, sendo este focado em atender as lojas especializadas no segmento. Ele deu certo? Qual avaliação faz do HQ?
O sis­tema deu tão certo que foi seguido por outras edi­to­ras. É só olhar como há mais pon­tos espe­ci­a­li­za­dos em qua­dri­nhos em todo o país. Não são mui­tos mais. Mas são cres­cen­tes. As livra­rias tam­bém, cada vez mais, criam seto­res para as HQs. Nosso método de lan­çar álbuns. Assim como os méto­dos da Devir, foram imi­ta­dos por gran­des editoras.

Durante todo o tempo de existência da Opera Graphica ela buscou publicar materiais nacionais e estrangeiros que não despertavam grande interesse das outras casas editoriais, como se deu a decisão dessa linha editorial?
Não tínha­mos muita opção – quanto aos tra­ba­lhos estran­gei­ros, por isso esco­lhe­mos os melho­res dos alter­na­ti­vos– ou sobras. Quando aos bra­si­lei­ros opta­mos pelos auto­res clás­si­cos e o auto­res que nos procuraram.

Quais as lições aprendidas com a Opera Graphica?
Editar com qua­li­dade e ori­gi­na­li­dade. Ninguém nos tira o mérito da qua­li­dade e da criatividade.

Atualmente ainda edita HQs?
Não.

Anda escrevendo alguma coisa atualmente?
Faço rotei­ros para qua­dri­nhos com freqüên­cia. Ultimamente, todos para a gaveta. Não temos onde publi­car. O tra­ba­lho de Chico Xavier em qua­dri­nhos escrevi já faz dois anos.

Conte-nos um pouco do processo de criação da sua nova HQ, A chico Xavier em quadrinhos… E o que motivou a escrever a biografia de um espírita em quadrinhos?
A bio­gra­fia em qua­dri­nhos do Chico Xavier foi um tra­ba­lho por enco­menda. Eu já pro­duzi quase uma dezena de revis­tas espe­ci­ais sobre a vida deste grande médium. Inclusive a capa do álbum da Ediouro foi ilus­trada por mim em 1986. Era para ser a capa de uma edi­ção em qua­dri­nhos, já naquela época. Mas o pro­jeto não foi para frente. Assim como minha pró­pria situ­a­ção na Press. Eu saí da empresa jun­ta­mente com Paulo Paiva, seu fundador.

O álbum da Ediouro é foi rea­li­zado com bases nas deze­nas de depoi­men­tos sobre a vida de Chio Xavier dis­po­ní­veis em mui­tos livros e revis­tas. Minha pre­o­cu­pa­ção maior foi focar sua for­ma­ção e os pri­mei­ros anos de vida. Quando faz con­tato com o espí­rito da mãe, ainda bem pequeno. E mos­trar sua abne­ga­ção. Chico Xavier é uma cri­a­tura excep­ci­o­nal. Iluminada. Um monge. Boníssimo. Mas sofria muito. Até mesmo por doar tanta energia.

Pela sua experiência, consegue traçar um perfil do leito brasileiro de quadrinhos?
É como um con­su­mi­dor qual­quer. Gosta de preço bom e do que lhe satis­faça no momento.

Apesar da desativação da Opera, acredita ser viável ainda apostar em HQs no Brasil?
Sim. Sempre. Só que eu não quero tra­ba­lhar em uma estru­tura como a da Opera atu­al­mente. Já dei minha cota de cola­bo­ra­ção. Eu e o Carlos Mann. Precisamos des­can­sar um tempo.

O que recomenda aos novos quadrinhistas que surgem a cada dia?
Estudem muito. Reunir-se em grupo e for­mar coo­pe­ra­tiva é uma boa forma de conhe­cer o tra­ba­lho um do outro e ter força na divul­ga­ção. Todos os auto­res bra­si­lei­ros saí­ram de movi­men­tos. Na época das HQs his­tó­ri­cas, nos anos 40, no ter­ror dos gibis dos anos 50, na fase das tiras, nos anos 60, no under­ground dos anos 70, no ero­tismo do mesmo perío­dos, e assim por diante…Treinar muito. Tem que com­pe­tir com séries e auto­res esta­be­le­ci­dos. Experimentar várias mídias. Não dei­xar de expor seus tra­ba­lhos. Hoje existe a inter­net. O melhor difu­sor de todos os tem­pos que nin­guém jamais ima­gi­nou que fosse existir…Um veí­culo tão pode­roso que torna um Alex Ross num mero pei­xi­nho de um car­dume. Como ele bri­lha. Pode ser visto em destaque…

Personagens criados por Franco de Rosa (13)

• Bat Blue
• Capitão Caatinga
• Carrasco (Dick Vincent)
• Danny (Daniel Plummer)
• Fantagor
• Fargo (Jonas F. Smith)
• Hukão
• Power Kid
• Ringo Rock
• Ultraboy (Roberto )
• Vingador
• Zamor

Revistas Franco da Rosa

Referência: Guia dos quadrinhos | Grafipar | Revista O grito

1 Comentário Conheça Franco da Rosa

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